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sábado, 16 de julho de 2011

Partindo da melhor cidade do mundo


Quando eu tinha 18 anos, tudo o que eu queria fazer na vida era ir embora de minha cidade. Pequena, provinciana, sem opções nem de trabalho, nem de lazer. Sem ter como ganhar dinheiro nem como gastar. Sem ter opções culturais que valessem a pena. Dominada pela música sertaneja – ai de mim!
Pois consegui. Passei no vestibular, meus pais se apertaram e conseguiram me custear durante dois anos em Belo Horizonte – depois arrumei trabalho e pude me sustentar sozinho daí em diante.
Mas não foi preciso mais do que um mês para que eu descobrisse a verdade que meus olhos se recusavam a ver. Eu deixara para trás – queira Deus que não para sempre – a melhor cidade do mundo. Santo Antônio do Monte  - nome tão português – ou, para nós, Samonte. Nem 30 mil habitantes. Ainda sem ter muito onde trabalhar ou o que fazer. Sem belezas naturais ou históricas dignas de nota. Comum, como qualquer cidade de interior de Minas. Mas a melhor cidade do mundo.
A melhor porque é onde nasci, onde vive minha família, minha noiva, boa parte dos meus amigos. É a cidade onde cresci, onde descobri os primeiros mistérios do mundo. É a cidade por cujas ruas passei tantas e tantas vezes a caminho da escola, durante os primeiros empregos. É a cidade cujo tempero é perfeito. É a cidade onde todos se conhecem – coisa que antes eu via como defeito e depois percebi que é um antídoto infalível contra a solidão. É a cidade onde posso andar a pé sem preocupação, sem pressa, sem medo.
Mesmo morando longe, nunca deixei de visitá-la pelo menos a cada 20 dias. Os amigos de Brasília até dizendo que moro lá e trabalho no Distrito Federal… Na verdade, nunca entendi como alguém pode se mudar para longe e abandonar suas raízes. As minhas não perdi. Gosto do meu sotaque, das comidas de minha terra. E, para pagar a língua, até de algumas músicas sertanejas – mas só algumas, também não é assim! Hehe…
Foi em Santo Antônio do Monte que me formei como católico. Foi lá onde participei do único grupo de jovens da minha vida – o saudoso Fé e Vida.  De lá partirei para a Jornada Mundial da Juventude. Que Santo Antônio nos abençoe.

Como a Jornada entrou na minha vida


Acho que já está tudo pronto. Parece inacreditável, depois de tanta preparação. Fica ainda aquela sensação de “será que estou esquecendo alguma coisa?”, mas, francamente, acho que não. Agora é só aguardar o dia do embarque: 4 de agosto. E então, enfim, partiremos para a maior aventura de nossas vidas.
A primeira vez em que ouvi falar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi em 2004. Eu tinha 25 anos na época e morava em Belo Horizonte. O Tiago Miranda me mandou um e-mail dizendo que tinha se inscrito como voluntário na JMJ de Colônia e me convidou a fazer o mesmo. Mas o que é isso exatamente? Um grande encontro de jovens do mundo todo com o Papa. Parece interessante… Eu me inscrevi, sem nem saber direito se teria grana pra ir. Pensei: até lá, a gente vê.
Não deu. Deus tinha outros planos. No começo de 2005, fui convocado para tomar posse no serviço público (depois de fazer mais de dez concursos) e me mudei para Brasília. Cidade nova, emprego novo: uma bênção, mas agora sem direito a férias durante um ano. Não dava para me ausentar do trabalho durante uma semana. Ficou para a próxima.
Ainda assim,  desejo de ir a uma Jornada ainda não tinha me fisgado. Meu interesse de ir à JMJ Colônia em 2005 era talvez mais por vontade de conhecer a Europa, ou de simplesmente participar de um grande evento. Não fui e acabei nem acompanhando tanto pela internet. Naquela época era mais difícil: eu não tinha Canção Nova em casa e na web só havia informações em inglês.
Três anos se passaram. Acho que nunca cheguei a pensar seriamente a participar da JMJ Sidney em 2008. A Austrália é muito longe e a viagem ficaria muito cara. Além disso, eu não conhecia ninguém que iria. Mas dessa vez, pude acompanhar pela TV e pela internet.   Agora já tinha a Canção Nova e a Agência Zenit também noticiava muita coisa. Ver aquelas cenas todas, a chegada do Papa em um barco na Baía de Sidney, a belíssima Via Sacra, as missa, a grande festa dos jovens: sim, da próxima vez eu iria, onde quer que fosse.
Até hoje me recordo do dia em que comuniquei essa decisão para minha namorada – hoje noiva – Camila e a convidei para ir comigo. Estávamos na Pizzaria do Marcão, em Samonte (cidade mineira onde nasci e da qual nunca me afastei). Acho que ela também não sabia nada sobre a Jornada, assim como eu em 2005. Mas se entusiasmou na hora. Pouco tempo depois, convidamos nosso amigo Nilson e ele topou na hora. Falamos com outras pessoas e alguns manifestaram interesse. Começamos  montar nosso grupo para a Jornada!
Fizemos as contas e pensamos: guardando entre 150 e 200 reais por mês, ao longo de três anos, seria possível pagar a viagem e ainda esticar mais um pouco. Para nós seria mais fácil fazer isso, já que todos trabalhávamos, do que vender rifas ou comidas, como tantos grupos fazem mundo afora. E assim, começamos.
Com o passar do tempo, algumas pessoas que tinham decidido ir conosco desistiram e acabamos ficando só nosso grupo original, de três pessoas.